A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu recentemente a manipulação, comercialização, publicidade e uso dos chamados "chips da beleza", implantes hormonais comercializados por farmácias para finalidades estéticas e terapias hormonais. A decisão foi tomada após denúncias de entidades médicas, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, que apontaram uma crescente incidência de complicações de saúde em pacientes que utilizam esses implantes.
O que são os “chips da beleza”?
Popularizados nas redes sociais por influenciadores digitais, os “chips da beleza” são pequenos implantes subcutâneos que liberam hormônios de maneira gradual no organismo, visando benefícios como emagrecimento, controle da menopausa, antienvelhecimento, aumento da libido e ganho de massa muscular. Compostos principalmente de testosterona ou gestrinona, alguns desses chips contêm outros hormônios, como estradiol e oxandrolona, além de substâncias como metformina e ocitocina, sem registros adequados de eficácia ou segurança na Anvisa. A única exceção autorizada é o implante de etonogestrel Implanon, aprovado exclusivamente como método anticoncepcional.
Complicações severas reportadas
De acordo com o endocrinologista Neuton Dornelas, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, esses implantes hormonais inicialmente foram desenvolvidos para tratar endometriose, mas sua popularização e uso indiscriminado têm trazido problemas de saúde além da área ginecológica, afetando também psiquiatria e cardiologia. Complicações como infarto, trombose e AVC (acidente vascular cerebral) foram relatadas com maior frequência, além de efeitos colaterais cutâneos, hepáticos, renais, musculares e psiquiátricos, como ansiedade e depressão.
Além das preocupações com a saúde, especialistas destacam que não existe dose segura para o uso de hormônios para fins estéticos. Segundo Marcus Aurélio Miranda de Araújo, gerente-geral de fiscalização da Anvisa, pacientes que possuem esses implantes devem consultar seus médicos para avaliar a necessidade de retirá-los.
A proibição dos “chips da beleza” acompanha a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que, desde 2022, proíbe o uso de terapias hormonais para fins estéticos. Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), vê a medida como um importante avanço na defesa da saúde pública. "A decisão representa uma vitória na nossa luta pela saúde pública. Os implantes têm sido utilizados de forma inadequada e com riscos comprovados para a saúde”, afirmou ao g1.
Recomendações para usuários
A Anvisa orienta os usuários dos implantes hormonais a procurar assistência médica. Dentre os principais efeitos adversos que podem surgir estão hipertensão, arritmia cardíaca, crescimento excessivo de pelos, acne, alteração na voz, insônia e agitação.
O alerta reforça que o uso de hormônios para finalidades estéticas representa riscos que podem superar quaisquer benefícios, devendo ser evitado em prol da segurança e bem-estar dos usuários.
Por Heloísa Mendelshon
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