O Brasil se despediu neste sábado (17) de Silvio Santos, um dos maiores ícones da televisão nacional, que faleceu aos 93 anos. A notícia foi confirmada pelo SBT, emissora que ele fundou e comandou por décadas, através de uma nota publicada nas redes sociais. Silvio, que estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, desde o início de agosto, lutava contra complicações decorrentes de uma infecção por H1N1.
Silvio Santos, nascido Senor Abravanel em 12 de dezembro de 1930, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, era o primogênito de uma família de imigrantes judeus. Seus pais, Alberto e Rebeca Abravanel, chegaram ao Brasil fugindo das dificuldades da Europa e se estabeleceram na capital carioca. Desde jovem, Silvio demonstrou uma aptidão natural para o comércio e a comunicação, que o levariam a se tornar uma das figuras mais influentes da mídia brasileira.
Início da carreira: de camelô ao rádio
Aos 14 anos, Silvio começou a trabalhar como camelô nas ruas do Rio de Janeiro, vendendo canetas e capas plásticas para títulos de eleitor. Sua habilidade para vender e entreter os clientes chamou a atenção de muitos. Ao mesmo tempo, ele iniciou pequenos trabalhos como locutor em rádios locais, o que o levou a se interessar cada vez mais pela comunicação.
Em 1948, aos 18 anos, Silvio foi convocado para servir o Exército Brasileiro na Escola de Paraquedistas. Mesmo durante o serviço militar, ele não abandonou sua paixão pelo rádio, trabalhando nos finais de semana para uma estação no Rio de Janeiro. Após deixar o Exército, continuou como locutor e expandiu suas atividades, como a venda de anúncios em caixas de som na barca Rio-Niterói.
A grande virada na vida de Silvio Santos aconteceu em 1954, quando ele assinou seu primeiro contrato fixo como locutor na Rádio Nacional de São Paulo. Pouco tempo depois, foi convidado pelo empresário Manuel de Nóbrega para ser animador em um de seus programas na rádio. Essa parceria marcaria o início da trajetória de Silvio no mundo do entretenimento.
Em 1958, Silvio assumiu o comando do Baú da Felicidade, um negócio de vendas a crédito que ele transformou em uma das maiores empresas do país. O sucesso do Baú o levou à televisão, onde, em 7 de fevereiro de 1960, ele estreou seu primeiro programa, "Hit Parade", na TV Paulista. Em seguida, começou a apresentar o "Vamos Brincar de Forca", um dos primeiros programas de auditório da televisão brasileira.
Silvio Santos consolidou sua carreira na TV Globo com o "Programa Silvio Santos", que estreou em 1963 e rapidamente se tornou uma das maiores audiências da emissora. Contudo, em 1976, após divergências com a direção da Globo, ele decidiu sair da emissora e focar em seu próprio canal, a TVS, que mais tarde se tornaria o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).
A fundação do SBT
Em 1981, Silvio Santos fundou o SBT, que rapidamente conquistou o público brasileiro com uma programação diversificada e inovadora. A emissora se destacou por sua proximidade com o público e pela criação de quadros inesquecíveis no "Programa Silvio Santos", como "Domingo no Parque", "Qual é a Música", "Show de Calouros" e "Porta da Esperança". Silvio se tornou o rosto do SBT, encantando o público com seu carisma, bordões icônicos como "Quem quer dinheiro?" e "Vem pra cá", e sua capacidade de segurar a audiência por horas a fio.
Além do sucesso na televisão, Silvio Santos também se aventurou na música, gravando marchinhas de carnaval como "Coração Corintiano" e "A Pipa do Vovô". Ele era conhecido por sua habilidade única de se conectar com o público de todas as idades e por sua presença carismática e acolhedora.
A vida de Silvio Santos não foi isenta de dificuldades. Em 1989, ele anunciou sua candidatura à Presidência da República, mas sua campanha foi interrompida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido a problemas com a documentação do partido. Esse episódio, no entanto, não abalou sua popularidade.
Um dos momentos mais dramáticos de sua vida ocorreu em agosto de 2001, quando sua filha Patrícia Abravanel foi sequestrada por sete dias. Após a libertação de Patrícia, o sequestrador invadiu a casa de Silvio e o manteve refém por sete horas. O incidente teve um desfecho pacífico após a intervenção do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Em 2010, Silvio Santos enfrentou uma crise financeira em seu grupo empresarial devido a um rombo bilionário no Banco Panamericano, uma de suas empresas. O banco foi vendido em 2011 ao BTG Pactual, mas Silvio conseguiu preservar a maior parte de seu império.
Últimos anos e afastamento da TV
Com o avanço da idade e a pandemia de Covid-19, Silvio Santos começou a reduzir sua presença na televisão. Em 2020, comemorou 90 anos sem celebrações públicas, em isolamento ao lado de sua família. Retornou ao comando de seu programa em agosto de 2021, após ser vacinado contra a Covid-19, mas foi internado novamente após contrair o vírus.
Seu retorno à televisão, embora breve, foi marcado pela mesma energia e carisma que sempre o caracterizaram. Em seu último programa, Silvio entrou ao som da icônica música "Silvio Santos vem aí", brincando com a plateia e demonstrando que, apesar da idade, seu espírito permanecia jovem.
Silvio Santos deixa sua esposa Íris Abravanel, com quem era casado desde 1978, e as filhas Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata. Ele também deixa Cíntia e Silvia, filhas de seu primeiro casamento com Maria Aparecida Vieira Abravanel, a Cidinha, que faleceu em 1977.
Por Nicolas Uchoa
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